Afonso Henriques de Lima Barreto
Lima Barreto participa da época do Simbolismo (Fim do Século XIX ao começo do Século XX), sendo uns dos Autores do Pré-Modernismo, seja em Portugal ou no Brasil (prosa).
Escritor brasileiro, nascido em 1881 e falecido em 1922 no Rio de Janeiro. De origem humilde, mestiço, não conseguiu, pela pobreza e condições modestas, completar o curso de engenharia iniciado, passando a funcionário da Secretaria da Guerra. Construiu, a partir de então, uma obra de romancista que figura entre as mais significativas das letras brasileiras. Seu livro de estréia. Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), romance à clef, teve grande êxito, o que deveu à circunstância de retratar a vida de um grande jornal da época, satirizando certos personagens, de identidade evidente, e que ocupavam os primeiros postos da imprensa ou das letras. Esse livro foi uma amostra do que constituiria a característica da obra do romancista, utilizada como válvula de escape a um temperamento de inconformado.
A crítica social foi, assim, o núcleo dessa obra, de acordo com os cânones da estética naturalista, praticando, como mostrou Eugênio Gomes, a literatura em função do jornalismo e do panfleto, extravasando as suas amarguras, revoltas e decepções. Daí decorre um prejuízo para a obra romancesca, não completamente realizada, quaisquer que sejam as qualidades inegáveis que se têm de reconhecer nela. Além do primeiro, escreveu os romances Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915), Numa e a Ninfa (1915) , Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919), Clara dos Anjos (1948),além dos contos reunidos no volume Histórias e Sonhos (1920), e da colaboração para a imprensa em artigos excelentes, enfeixados no livro Bagatelas (1923).
O mesmo talento e o mesmo ingrediente humano e pessoal entraram na confecção dessas obras: uma herança neurótica, os ressentimentos, os desregramentos, a dipsomania, o recalque contra a sociedade que o desdenhou, o instinto revolucionário e de reforma social. A mistura de invectiva, ironia, sátira, pessimismo, vai reencontrar-se em:
Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá,
Livro feito de conversas entre o personagem e um interlocutor, através de perambulações pelas ruas,satirizando os ridículos dos doutores burocratas.
Triste Fim de Policarpo Quaresma
É a história de um burocrata humilde, através da qual ele traça o quadro da "alta sociedade suburbana", que põe em contraste com a dos bairros aristocráticos.
Numa e a Ninfa
É uma sátira à vida política da época, com tipos e costumes retratados segundo a luneta deformadora do romanticista.
Clara dos Anjos
Iniciado desde 1904 e submetido a várias transformações, é uma tentativa de fixar a vida suburbana carioca.
Em todos os seus romances, e em muitos dos seus contos (alguns dos quais, como "O Homem que sabia Javanês", colocam-se entre as obras-primas do conto brasileiro), Lima Barreto especializou-se na pintura dos humildes, a gente do povo, a classe dos burocratas espezinhados, mestiços, suburbanos, com uma ternura e um senso de fraternidade que o colocam entre os maiores ficcionistas de veia popular e social do Brasil. A valorização crítica de sua obra romanesca deveu-se sobretudo aos escritores inspirados na estética modernista, em reação contra os cânones da chamada arte pela arte. Mesmo sem aceitar essa formulação polêmica, há que reconhecer o valor de sua contribuição.
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