Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais em 1902. Após estudos em sua terra natal e Belo Horizonte, foi interno no Colégio Anchieta, em Friburgo, em 1918. No ano seguinte, foi expulso devido a um incidente com o professor de português. Em Itabira, apesar de formado em farmácia, vivia das aulas de português e geografia. Tornou-se funcionário público em 1929, e, em 1934, o cargo no Ministério da Educação transferiu-o para o Rio de Janeiro. Em 1945, foi co-editor do jornal comunista Tribuna Popular a convite de Luís Carlos Prestes. A partir da década de 50, dedicou-se apenas à literatura, escrevendo novos livros de poesias e contos. Além de intensificar a produção de crônicas, fez também traduções. Carlos Drummond morreu no Rio de Janeiro em 1987.
Características Literárias
Carlos Drummond de Andrade é o primeiro grande poeta pós-movimento modernista e um dos mais importantes poetas brasileiros. Seu livro Alguma Poesia de 1930 marca o início da segunda fase poética do Modernismo Escreveu também prosa que se caracteriza pela riqueza e expressividade da linguagem e do tema, impregnados de senso de humor. Atribuem-se essas qualidades, igualmente, à sua obra poética. Segundo Bosi, Drummond possui uma percepção precisa do hiato entre as convenções e a realidade, entre o parecer e o ser das coisas e dos indivíduos, o que se transforma em objeto privilegiado do humor, seu traço principal. O conjunto de sua obra poética é complexo e vasto, do qual, pela freqüência, é possível destacar certas características e tendências Num primeiro momento, sem se deixar envolver, o poeta mantém um certo distanciamento do mundo à sua volta, o que lhe possibilita brincar e soltar a razão, deixando-a entregue a si mesma, maquinando incertezas e certezas, mais afeitas a negar e anular que a construir. Daí os temas do cotidiano, da família, do isolamento, da monotonia entendiante das coisas e do viver, expressos numa linguagem coloquial plena de ironia seca, sarcasmo e humor desencantado, onde sentimento e emoção são refreados. São deste primeiro momento os livros Alguma Poesia e Brejo das Almas.
No segundo momento, sem se distanciar, deixa-se envolver pela realidade à sua volta e canta a impotência e a solidão em um mundo mecânico, frio e político; a decepção e a falta de perspectiva diante da fragmentação causada pela guerra; o sofrimento e a solidariedade do ser humano brasileiro e universal. Temas estes abordados em tons ora esperançosos, ora desesperançosos, com a mesma ironia, humor e sobriedade, estão presentes nos livros Sentimento do Mundo, José e A Rosa do Povo.
Finalmente, o poeta busca o real, através de interrogações e negações que lhe revelam o vazio, o nada e o desencanto que sempre acompanham o homem. Da poesia metafísica de Claro Enigma, desse período, Drummond passa à poesia objectual de Lição de Coisas que, ao enfatizar a linguagem nominal e os aspectos visuais e sonoros, valoriza objetos e coisas, violando e desintegrando a palavra.
Principais Obras
Poesia
Alguma Poesia (1930); Brejo das Almas (1934); Sentimento do Mundo (1940); José (1941) Poesias (1942); A Rosa do Povo (1945); Poesia Até Agora (1948); A mesa (1951); Claro Enigma (1951); Viola de Bolso I (1952); Fazendeiro do Ar e Poesia Até Agora (1955);Viola de Bolso II (1955); Soneto da Buquinagem (1955); 50 Poemas Escolhidos pelo Autor (1956); Ciclo (1957); Poemas (1959); Lição de Coisas (1962); Antologia Poética (1963); José & Outros (1967); Boitempo & a Falta que Ama (1968); Reunião (10 livros de poesia) (1969); Menino Antigo (1973); As Impurezas do Branco (1973).
Contos
Contos de Aprendiz (1951).
Crônicas
Confissões de Minas (1944); O Gerente (1945); Passeios na Ilha (1952); Fala, Amendoeira (1957); A Bolsa e a Vida (1962); Cadeira de Balanço (1966); Versiprosa (1967); Uma Pedra no Meio do Caminho - Biografia de um Poema (1967); Caminhos de João Brandão (1970); Os Dias Lindos (1977).
Traduções
Uma Gota de Veneno (Therèse Desqueyroux), de François Mauriac (1943); As Relações Perigosas, de Choderlos de Laclos (1947); Os Camponeses, de Honoré de Balzac. A Comédia Humana, v. XIII (1954); A Fugitiva (Albertine Disparue), Marcel Proust (1956); Dona Rosita, a Solteira, de Federico Garcia Lorca (1959); Beija-Flores do Brasil, de Th.Descourtilz (1960); O Pássaro Azul, de Maurice Maeterlink (1962); Artimanhas de Scarpino, de Molière (1962); Fome, de Knut Hamsum (1963).
O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de DRUMMOND,alguma poesia (1930) e brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontraçao sintatica pareceriam revelar o contrario. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditorias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele,testemunha lucida de si mesmo e do transcuro dos homens, de um ponto de vista melancolico e cetico. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satirico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo á comunicaçao estetica desse modo de ser e estar.
Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em sentimento do mundo (1940), em josé (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), DRUMMOND lançou-se ao encontro da historia contemporânea e da experiencia coletiva,participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais intima apreensao para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.
Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, ingles, frances, italiano, alemao, sueco, tcheco e outras linguas. DRUMMOND foi seguramente, por muitas decadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo tambem publicado diversos livros em prosa.
Poema
(...) pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
No queixo de tua filha.
De teu áspero silencio
Um pouco ficou, um pouco
Nos muros zangados,
Nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
No pires de porcelana,
Dragão partido, flor branca,
Ficou um pouco
De ruga na vossa testa,
Retrato.
(...) e de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
E abafa
O insuportavel mau cheiro da memoria.
( residuo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário